menino de talha
dourada com sangue artificial de céu azul,
nascido em França
numa família menor,
ias à procura de
esmola com a barba por fazer,
não eras grande
mestre mas tinhas-te em conta,
achavas-te omnipresente
na vida da Piedade,
o delírio ornamental
dessa mulher que te transmitia doenças que gostavas de curar com rezas a Santa Bárbara
fizeste um
testamento num pedaço de jornal, falava só sobre ti,
pedias uma mortalha
decente,
confiavas que nesse dia não ias verter pus pelos orifícios
escondidos.
Pensavas na morte
com domínio, a vida é quase secundária quando nem a idade se sabe.
Eras sensível aos
olhares de quem não te parecia escumalha.
Vivias em Lisboa
por acidente feliz.
Pagavam-te bem os
forasteiros
Tinhas uma
devoção ao Santo Turista de Verão que veste calça e sapato vela.
Aquele assentar
de moedas dava-te coragem.
Ousavas e planeavas
visitar a Piedade mais vezes nesses meses,
Mas a pinga era
outro vício.
Mais um dia a passar
e planeias viver até ao próximo verão,
Vais pedir a
Piedade em casamento.
Ela vai-se casar
com o menino de talha dourada com certeza.
Sonhas mas não
esqueces a mortalha que pediste,
não queres um nome, queres uma boa mortalha.
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